terça-feira, 24 de abril de 2012

25 de Abril de 1974. O que foi? As razões do pronunciamento militar e os dias actuais!




O 25 de Abril foi um golpe de estado motivado pelo descontentamento de uma parte de militares, essencialmente capitães. Tratou-se de um golpe de estado do tipo palaciano. O tipo de movimentação das operações militares, a acção militar em si,  foi programada de forma a evitar a participação popular. Inclusivé, a todo o instante as rádios ocupadas pelos militares nesse dia 25 de Abril de 1974 difundiam consecutivamente desaconselhamentos à participação da população, indicando que a mesma  deveria permanecer em suas casas e não sair à rua.

 A participação de oficiais  neste golpe levado a cabo nesse dia, compunha-se na sua maioria e essencialmente à base de capitães, assumindo ele um cariz corporativo. O Movimento das Forças Armadas era patrocinado por oficiais de carreira que se opunham à anterior decisão de Marcelo Caetano em equiparar os oficiais milicianos aos oficiais de carreira. 

 Os capitães foram bem-intencionados, no entanto, o que os leva a fazer o pronunciamento é essencialmente o seu problema de carreira. Ainda que nesta análise tenhamos sempre de ter em conta a influência exercida sobre as mentes dos militares das condições conómicas paupérrimas vividas por toda a população portuguesa e do descontentamento politico e social vivido durante o regime fascista de Salazar e Caetano, por mais de 40 anos de ditadura.
Os capitães eram da classe de oficiais, os militares que menos recebiam, quem menos auferia e quem mais riscos corria na Guerra Colonial. 

Dito isto pode parecer estranho a muitos de nós, mas temos de ver bem o que ali naquele dia sucedeu, não esquecendo todo o movimento e suas origens, bem como os acontecimentos posteriores e até do próprio dia, onde as massas populares precipitaram os acontecimentos um pouco mais para lá do previsto e desejado pelos militares.

Poucos sabem que não fazia parte do programa do chamado Movimento das Forças Armadas e da acção daquele dia 25 de Abril de 1974, a extinção da PIDE/DGS, a polícia política do regime fascista. Foram os populares, foi a luta do povo, que fez com que a polícia política do regime fosse derrubada para sempre. Inclusive, alguns desses populares que cercaram e exigiram o fim da policia politica em Lisboa, na Rua António Maria Cardoso, haveriam de constituir as únicas vitimas mortais desse longinquo dia de Abril de 1974. Essa acção dos populares obrigou e forçou a intervenção dos militares nesse sentido, obrigando a que as acções do MFA fossem mais longe, que o pronunciamento fosse mais revolucionário pois a população exigia que os prendessem e os julgassem.
Não esqueçamos que após a prisão dos esbirros da polícia-politica, do Estado Novo, do regime fascista de Salazar e de Caetano, a PIDE-DGS, breves meses depois, eles se "evadiram",  ou seja, ignóbilmente os soltaram da prisão de Alcoentre onde se encontravam e sem que as forças governamentais e policiais alguma vez mais fizessem algo para os voltar a encarcerar e julgar acima de tudo. Portanto, eles foram soltos, deixados evaporar ao sair do país, sem que qualquer força policial ou militar tenha exercido algum gesto na sua recapturação.
Nunca algum agente da PIDE-DGS foi sequer julgado e nem viu sequer emitido um mandato internacional pela sua captura.
No entanto, se fossem presos de delito comum é sabido que os haveriam de perseguir até à sua captura.

Porque nunca foram julgados, quer a policia politica quer os dirigentes máximos do regime fascista?

 Esses esbirros fascistas saíram impunes, muito graças ao pactuar de partidos tais como o PCP e o PS. Quem desconhece que esses partidos fizeram desaparecer todas as fichas da policia politica a qual em muitos casos os incriminaria?

Sabe-se que alguns desses  ficheiros foram, mais tarde divulgados através do PCP, partido que mais tarde as haveria de enviar para Moscovo, mas só divulgaram fichas de quem lhes convinham e sonegaram as que os encriminavam.
Não se pode dizer que o povo apoiou o movimento, o golpe de 25 deAbril de forma massiça, mas sim, que  participou  posteriormente nos acontecimentos ao ponto de transformar o golpe de estado do dia 25 de Abril num movimento revolucionário. Durante mais de um mês, em Lisboa, a população seguiu perseguindo e prendendo muitos agentes da PIDE que não havim sido encarcerados e mesmo a sede da PIDE só foi assaltada pelo MFA no dia 26 de Abril, ou seja, só no dia a seguir ao 25 de Abril acabaram por prender os esbirros dessa policia politica devido à exigência dos populares. É este o momento, o da entrada em cena da população, da participação dos populares que vai obrigar o movimento, o golpe, a ir um pouco mais longe, a ser mais profudo do que o previsto e do que o desejado pelos próprios capitães. E é esta participação popular, a este facto, ao de a população lisboeta ter participado nos acontecimentos, impulsionando e obrigando os militares a tomarem acções contra a plicía politíca do regime do Estado novo que leva muitos analistas e acima de tudo muitos ingénuos, a afirmarem que em 25 Abril de 1974 houve uma revolução.  

Ao golpe de estado desse dia de Abril  se pode lhe atribuir algo de romântico e de popular, mas o mesmo nunca passou de um golpe de estado. O poder de facto somente passou das mãos de um sector da burguesia, a burguesia assassina e torcionária da extrema direita nacionalista exacerbada, a clique  fascista de Salazar e Caetano, para outro sector da mesma classe de burgueses, a alta burguesia moderada, mas igualmente exploradora das restantes classes e camadas de classe, sobretudo das classes mais desvaforecidas, pequeno-burguesia, operariado, assalariados agricolas, classe média e média baixa.
No entanto, não se pode negar que para além da motivação corporativista há também uma preocupação política e social no desenvolvimento do golpe. Só que os militares não tinham a suficiente instrução política e organizacional para irem mais além e por isso acharem que deviam entregar o poder nas mãos de patentes militares de oficiais superiores.

E foi esse de facto o grande erro. Aos poucos e poucos o poder foi sucessivamente ameaçado de mudar de mãos para outros sectores da sociedade, mas quem acabou por o obter definitivamente e o consolidar, foi o extracto de classe médio burguês representado por Ramalho Eanes.

O general Ramalho Eanes, um burguês democrata, em 25 de Novembro de 1975, através do contra movimento encetado nesse dia contra as movimentações do PCP e dos seus partidos satélites, consolida o poder nas mãos da burguesia, mas agora nas mãos de outro sector de classe, não a burguesia assassina ultraconservadora e fascista de Salazar e de Caetano, mas a da média burguesia democrata burguesa e da alta burguesia financeira em expansão.

Mais tarde os sectores da classe dominante, a alta média e alta burguesia vão entrar no poder de estado e financeiro, consolidando suas posições quer num quer noutro poder pela mão dos partidos que ascenderam ao poder após escrutinio popular viciado. Os governos PS, PSD e CDS, no poder fazem leis que vão permitir as entregas de propriedades, de bens e de empresas, da banca antes nacionalizada e a voltando a privatizar de novo, deixando correr tudo tal como correu até aos dias de hoje, nesta farsa de democracia, na mistificação da verdadeira democracia.
 

Passámos desde então, a viver a farsa da"democracia" que nos concedeu a possibilidade de escolher nossos próprios ditadores e algozes. O Carnaval Eleitoral das promessas, permitiu-nos somente essa falsa e ténue “liberdade”, a de podermos abertamente falar e a de votar em quem bem eles entendem, não em quem de facto nos governe de forma verdadeiramente democrática e progressista, tudo para que a politica promova governos sem prejuízo ou riscos do poder para a burguesia e seus interesses, de forma a evitar, de forma a contornar a possibilidade do risco  de algum rumo na sociedade no sentido do progresso, no avançar para medidas que democratizem verdadeiramente a sociedade, que terminem o corrupto e explorador sistema do mundo financeiro agióta.

 Nessa pretensa liberdade conquistada em Abril, melhor dizendo do que dela haveria de decorrer, do que haveria de suceder, da sua herança social e politica, acabaria essa falsa liberdade também por dividir um povo e uma nação com a criação de partidos politicos e sua nefasta actividade de governações sucessivas desastrosas até aos dias de hoje, bem como pela divisão que eles acabaram por criar no seio da população e da opinião pública.

 Hoje estamos divididos por inúmeras correntes de opinião que são representadas nos partidos. Assim, o que uns pensam ser democracia, é apenas a existência livre de partidos e de correntes de opinião. Os partidos são de facto o fosso da divisão da população portuguesa. Democracia não pode ser divisão do povo. A democracia não é, não pode ser, termos somente a liberdade de falar e de quatro em quatro anos votarmos. As eleições, a lei eleitoral foi maquinada de forma a serem sempre os mesmos os encedores das eleições e sempre em alternancia resultarem governos ora do PS ora do PSD, bipolarizando falsamente a sociedade entre campos falsamente antagónicos e falsamente reprsentativos de extratos ou de camadas sociais, com a agravante de suas politicas serem iguais e igualmente contraproducentes.

Democracia é união e os partidos não unem, desunem. A classe dominante burguesa sabe disso e aproveita para dividir e poder melhor reinar.
A burguesia somente nos concedeu não a democracia,, mas  a ilusão democrática, a alegoria mistificada de democracia!  Enquanto isso ela salvaguarda para si o mais importante, o dominio do poder politico e económico matando dois coelhos de uma só cajadada. Dividem-nos astutamente através da "cedência" de “democracia” a qual consiste somente na legalidade da existência de partidos politicos, iludem a população e mantem o poder politico e económico.
A democracia não é nem pode ser somente podermos votar em partidos de 4 em 4 anos! Desde que não tenhamos um só partido, uma só opinião contra a classe dominante, mas vários partidos e várias opiniões e rumos contra a dita “democracia” , desde que divididos na luta que devia ser comum e unida contra o seu poder burguês, ela, a "democracia" subsiste, mas só em palavras. No dia em que porventura houver uma frente comum do povo contra este estado de coisas, de imediato é suspensa a falsa democracia e volta a velha ditadura.

 E é nessa ilusão que muitos pensam que estão vivendo em democracia e que outros nos tentam disso convencer ao mesmo tempo que o poder segue intacto nas mãos da mesma classe que representava Salazar e Marcelo Caetano,  ou seja, a burguesia. Ele, o poder, apenas mudou de um sector de classe para outro. A exploração segue na mesma e não existe de forma alguma verdadeira democracia, verdadeira justiça e verdadeira igualdade de oportunidades, tudo não passa de um embuste para nos fazerem acreditar que é possível viver em paz e no progresso social, sem necessidade de recorrermos ao que em pé de igualdade todos temos direito, a distribuição e acesso a todas as riquesas nacionais e o direito à igualdade de oportunidades.

Temos vivido desde 25 de Novembro de 1975, altura em que o poder se consolidou de vez nas mãos da classe dominante, através da acção do General Ramalho Eanes, num misto de Carnaval Eleitoral e de falsa democracia, de falsas promessas eleitorais, numa paz podre, de aparente trégua social, onde os homens de negócios do grande capital e seus representantes na Assembleia da República,  PS e sobretudo o PSD e CDS, paulatinamente tem retirado à maioria de todos nós, ao povo, os direitos liberdades e garantias que haviam sido conquistados não só pós 25 de Abril, como em mais de um século de lutas anteriores. 
Enquanto isso, o poder burguês não só se mostra incapaz de desenvolver a sociedade a novo patamar da civilização, como se verifica ser, burocrata, manipulador, corrupto, ditatorial e obsoleto.

Nós, a maioria dos cidadãos, somente temos a liberdade de falar e de votar. Os membros da classe dominante tem a liberdade de criar dificuldades e entraves no mundo do emprego, de destruir o que resta de um frágil Serviço Nacional de Saúde, de destruir o ensino geral e gratuito e o seu acesso aos filhos das familias mais pobres, destruir o serviço de transportes encarecendo-os e descaracterizando as empresas, sucedendo o mesmo em todos os demais sectores da sociedade. Tem ainda a classe dominante, a liberdade de manipular eleitoralmente a sociedade e seus cidadãos, através de arranjos a que chamam de constitucionais. O poder burguêse seus servidores tem a liberdade de desviar dinheiro de tudo que é estado e empresas. Tem a liberdade de carregar com as suas polícias se nos manifestamos nas ruas e nos prendem e nos julgam de igual forma, fazendo-nos passar por terroristas e desordeiros. 

E é isto, o que muitos pouco inteligentemente, acham ser a democracia!

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